
A política deveria ser um pilar de representação popular e serviço público. No entanto, enfrenta uma grave crise de identidade. A linha entre o interesse coletivo e o negócio privado torna-se perigosamente tênue, como exemplificado pelo caso do senador Flavio Bolsonaro. Após anunciar uma pré-candidatura independente, ele declarou que essa candidatura “tem um preço”. Esse episódio não se resume a uma manobra política; é um doloroso testemunho da mercantilização da democracia.
Colocar à venda e botar preço em uma “candidatura imaginária” — sem o apoio de qualquer partido político de direita — transformam um potencial mandato público em uma fonte de lucro pessoal, negociável no mercado de influência. Tal prática é eticamente catastrófica, pois mina a lógica da representação, sugerindo que as alavancas do poder não emanam do povo, mas podem ser adquiridas pelo maior lance, por aqueles que detêm capital financeiro ou político. Isso pode corroer a integridade do processo eleitoral, tratando a soberania popular como um item de leilão e o cargo público como um produto, não como uma responsabilidade.

Se não fosse pela natureza absolutamente pessoal do negócio proposto no cenário nacional — que visa livrar seu pai de uma condenação em processo legal, com direito a ampla defesa, publicidade dos atos processuais e decisões fundamentadas —, poder-se-ia também questionar a moralidade de tentar vender um mandato que não lhe pertence, e que nem se sabe se será disputado por ele. Essa candidatura imaginária se assemelha aos meios utilizados para adquirir sua luxuosa residência.
Uma vez que o pré-candidato se apresenta afirmando ter um preço para desistir da candidatura, uma conclusão se torna evidente: não há um programa de governo. Cuida-se, apenas, um negócio, com lucro pessoal como prioridade. Essa ação cínica corrói a confiança do público e despreza os princípios democráticos. Independentemente do que ocorra, nada é mais urgente do que uma reflexão coletiva sobre os limites morais na política, para que a representação popular não seja entregue a quem a enxerga, apenas, como mais uma mercadoria, uma ferramenta para auferir vantagens










