No segundo dia do Carnaval fora de época, agremiações levaram emoção e identidade cultural à avenida
A espera pelo toque da sirene que autoriza a entrada no sambódromo Marcelo Sena, no Eixo Cultural Ibero-americano, chegou ao fim para mais seis escolas de samba do Distrito Federal entre a noite de sábado (24) e a madrugada deste domingo (25). A grande campeã será conhecida pelo público na tarde deste domingo.
Além de cores, alegria, fantasias, interpretações e uma enxurrada de alegorias que encantaram o público brasiliense, as agremiações colocaram na avenida uma relevante amostra da diversidade cultural brasileira e, sobretudo, contribuíram para enobrecer ainda mais o samba na capital do país.
Pelo grupo de acesso entraram na avenida a Acadêmicos do Riacho Fundo II, seguida pela Capela Imperial de Taguatinga e pela Acadêmicos de Santa Maria. A primeira agremiação levou ao sambódromo um enredo sobre a relação Brasil-Portugal, com referência ao vinho e à cachaça. A escola de Taguatinga, uma das mais antigas do DF, por sua vez, apresentou uma letra em que exalta as belezas da cidade, que celebrou 65 anos em 5 de junho. Já a escola de Santa Maria homenageou a expressão artística e diversidade do Pará.
Tomada pela emoção logo após deixar a avenida, Sueli Gaspar, mais conhecida como Lili, presidente da Capela Imperial de Taguatinga, não economizou agradecimentos a cada integrante da agremiação. Ela lembrou das barreiras superadas, principalmente da falta de uma quadra para realizar os ensaios, mas enalteceu o apoio da comunidade de Taguatinga, que acolheu o projeto da escola que tenta voltar ao grupo de elite do samba brasiliense.
“Não foi fácil fazer esse desfile ganhar forma. Temos o objetivo de retornar ao lugar de onde nunca deveríamos ter saído, o grupo especial, e, a partir disso, fizemos um ótimo trabalho. Agora vamos esperar pela apuração e torcer para que o resultado seja positivo para a Capela Imperial”, afirmou ela.
Grupo especial
Pouco antes da meia-noite, a Mocidade do Gama, primeira escola do grupo especial a desfilar na noite, entrou na avenida para animar o público com um samba sobre a história de São Jorge, também chamado Jorge da Capadócia e venerado por cristãos e por religiões de matriz africana.
Na sequência, desfilaram a Bola Preta de Sobradinho e a atual tricampeã do Carnaval do DF, a Acadêmicos da Asa Norte. A agremiação da cidade serrana embalou o sambódromo com o enredo O jeito bola de ser — No bonde do Bola Preta você é o eterno folião, exaltando elementos culturais da cidade, como o Boi de Seu Teodoro. A escola do Plano Piloto abordou a história de mulheres negras que exerceram protagonismo na história do Brasil, prestando homenagem a personalidades como Elza Soares, Leci Brandão, Margareth Menezes e Marielle Franco. A figura da mulher brasileira que vive longe dos holofotes também foi abordada pela escola durante a apresentação no sambódromo.
O carnavalesco responsável pelo desfile da atual campeã, Robson Salazar, comemorou o retorno dos desfiles e mostrou confiança na conquista do quarto campeonato consecutivo da agremiação. “A história do nosso enredo tem início na ancestralidade e percorre uma trajetória até os dias atuais. Vamos mostrar a importância da mulher negra, que faz com que esse país seja diferente e, com isso, lutar para que o troféu permaneça na Asa Norte”, disse Robson antes do início do desfile.
O trabalho de cada escola foi conferido de perto não apenas pelo time de jurados, mas também por personalidades do universo do samba. O carnavalesco Milton Cunha foi novamente o mestre de cerimônias e comandou a transmissão pelo canal do YouTube Carnavalesco, compartilhando informações sobre as escolas.
O presidente da Federação Nacional do Samba (Fenasamba), Kaxitu Ricardo Campos, foi outra personalidade a acompanhar de perto a realização dos desfiles. Ele parabenizou a volta do evento e elogiou o projeto de reestruturação do Carnaval brasiliense, por meio da Escola de Carnaval, iniciativa criada e fomentada pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) para capacitar os amantes da festa mais popular do país.
“O que acontece aqui, hoje, é um marco na história do samba. Brasília sempre teve um dos maiores e melhores Carnavais do país e muita gente sentia falta de ver essa alegria, essa diversidade. Na federação acompanhamos de perto a reestruturação para que essa festa pudesse acontecer e vejo que é uma estratégia que precisa ser partilhada com outras regiões do país. É histórico e importante para o segmento de escolas e samba no Brasil”, analisou Kaxitu.
Entre as mais de 1 mil pessoas que acompanharam a segunda noite de desfiles, estava Mauro Jorge Chaves, presidente de uma agremiação caçula de Brasília, a Unidos do Jardim Botânico, criada em 2015 e que nunca desfilou oficialmente em um carnaval da cidade. Com o retorno das apresentações após quase uma década, o dirigente acredita no fortalecimento do samba brasiliense.
Mauro espera, também, pela próxima edição dos desfiles. A oportunidade irá marcar a estreia da agremiação no sambódromo do DF. “Já fizemos apresentações monumentais no Jardim Botânico, apesar de sermos uma organização caçula ainda. Esse retorno dos desfiles representa uma retomada importante para Brasília, mas é ainda mais relevante para nós, que podemos vislumbrar novos objetivos daqui para frente”, concluiu o dirigente.