A queda do master e o perigo de atingir o GDF

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*Paulo César Timm – economista, professor aposentado Universidade de Brasília (UNB) servidor aposentado do Instituto de Pesquisas Aplicadas (IPEA)

Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal (crédito: Agência Brasília)

Há muita confusão conceitual sobre a origem e natureza do sistema capitalista. Para mim, o capitalismo nasce nos primeiros bancos da Itália, século XV, quando o dinheiro se converte, de meio de troca em meio de vida – e enriquecimento – aos que o controlam. No começo, dadas as restrições morais da Igreja à usura, foram os judeus que, paulatinamente foram expandindo as redes bancárias mundo afora. Oportuno lembrar que tais restrições têm raízes muito antes de Cristo, como no Código de Hamurabi. Mas os tempos mudaram, a introdução do papel moeda flexibilizou as restrições à usura e os bancos se multiplicaram. Cresceram tanto que, já ao final do século passado, e sobretudo, depois da liberação à movimentação eletrônica dos capitais no mercado mundial, suas transações ultrapassaram os valores do comércio mundial e da própria produção. Hoje vivemos sob a bolha do Capitalismo Financeiro. Quer ficar rico? Entre para alguma empresa do ramo financeiro, aprenda as regras do “mercado”, mesmo como empregado aí encontrará os mais altos salários e, se for esperto, comece abrindo uma Financeira, depois uma Fintech, e depois, um Banco. Foi o que fez um latino-americano, “sem dinheiro no bolso”, mas muita ambição e poucos escrúpulos,  Daniel Vorcaro, ao criar o Banco Master.

Moço bem apessoado, educado, frequentador de salões sociais e políticos, ligado aos evangélicos Vorcaro  correu, primeiro, atrás de clientes privados e, em seguida, percebeu que os clientes “públicos”, a saber agentes do Estado, davam muito mais resultado. Bastava, para isso, chegar-se a influentes figuras dos Poderes Federais, inclusive Judiciário, com atrativos contratos de consultoria a ex ministros – e juízes aposentados -, aí despontando o deputado Ciro Nogueira, Presidente do PP, ex Chefe da Casa Civil de Bolsonaro, amigo de governadores importantes do Rio de Janeiro e Distrito Federal. Como registra o jornalista investigativo Andrei Meirelles:

“Vamos começar puxando penas para achar as galinhas e as raposas. (….) Ciro Nogueira e o governador de Brasília Ibaneis Rocha, além de piauienses, têm, entre outras coisas em comum, a escolha de Paulo Henrique Costa, o PH, para presidir o BRB, o banco público de Brasília. (…) A versão mais corrente em Brasília é de que Flávia Arruda ( hoje Flávia Peres, casada com Augusto Ferreira Lima), procurou Ciro Nogueira ( com quem dividiu a articulação política no governo Bolsonaro e o governador Ibaneis Rocha para usarem a influência sobre PH para ajudar o Banco Master a escapar da falência. Pelo comportamento, durante e até o estouro do escândalo, essa versão tem início, meio e fim coerentes com os comportamentos de Ibaneis e Ciro Nogueira.

Ibaneis foi à luta em defesa da mega mutreta. Conseguiu apoio da Câmara Distrital, em que tem ampla maioria, e atacou quem questionava a compra pelo BRB dos títulos podres do Banco Master, inclusive o Banco Central, de serem adversários de Brasília.”

Semana passado tudo ruiu. O Banco Central “acordou” para o fechamento do Banco Master,  Vorcari foi preso, já prestes a fugir do país num dos seus jatinhos executivos, Brasília entrou em pânico. Só o tempo dirá sobre o tamanho do rombo, provavelmente na ordem de R$ 20 bilhões, e da responsabilização de todos os que contribuíram para o festim. Certamente apresentarão Atestados Médicos para garantir cumprimento das penas em casa e seus respectivos patrimônios já terão sido pulverizados. Aqui no D.F. , entretanto, dificilmente o Governador Ibaneis, que escapou do 8 de janeiro, prosseguirá sua meteórica carreira.

Paulo César Timm – Economista, professor aposentado da Universidade de Brasília, servidor aposentado do Instituto de Pesquisas Aplicadas (Ipea)

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