O segundo dia do RIO2C reservou uma experiência única para quem acordou cedo e chegou à
Cidade das Artes antes de 8h30. Uma conversa com Ted Sarandos, Chief Content Officer (CCO)
da Netflix, moderada pelo Wagner Moura, ator, diretor e produtor brasileiro, pioneiro na
investida da Netflix sobre o mercado brasileiro. Sarandos destacou a qualidade do trabalho de
Moura em Narcos, uma história que teve grande aceitação em outros países – inclusive nos
Estados Unidos, mesmo com a barreira do espanhol falado em toda a série, legendado em
inglês, coisa a que os americanos não estão acostumados. Sobre isso, Ted Sarandos destacou
que levou quase duas décadas para que a Netflix percebesse que uma história bem contada
pode ter apelo global. Obviamente, essa percepção passou pela necessidade de a empresa
realizar suas próprias produções. Depois de migrar de um serviço de entrega de DVDs pelos
correios para o modelo atual de streaming de entretenimento em diversos formatos, seus
primeiros fornecedores (grandes estúdios norte americanos) perceberam o papel de
concorrente diferenciado dos “novatos” e pararam de oferecer seus títulos para a nova
distribuidora. A solução foi começar a produzir suas próprias obras. Desde o lançamento de
House of Cards até Black Mirror, o sucesso atual, o caminho foi de aprendizado. Tanto que a
Netflix decidiu apostar fortemente no mercado brasileiro, não apenas como consumidor, mas
também como fornecedor privilegiado de histórias universais para inserção em outros
mercados. Essa é, inclusive, tática para enfrentar a antiga concorrência, que agora entra
também no mercado de streaming, o que é o caso da Disney, da Amazon, da Crackle, dos
streamings da HBO, Google e do iTunes e, no Brasil, da própria Rede Globo, com a plataforma
GloboPlay.
A excelente notícia é que essa iniciativa tende a fortalecer cada vez mais nosso mercado
audiovisual. De cara, Ted Sarandos anunciou que há 30 produções programadas de histórias
brasileiras, entre longa metragens e minisséries. Isso não inclui o filme já rodado, em fase de
lançamento, em que Wagner Moura interpreta o papel principal de SÉRGIO. Não, não é uma
película sobre o Ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. O longa conta a história do diplomata
brasileiro no Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos entre 2002 e 2003.
Sérgio Vieira de Mello foi morto em uma ataque a bomba à sede da Onu em Bagdá, no Iraque
em 2003.
Wagner Moura falou também sobre a mudança de paradigma na análise da questão da
produção cinematográfica brasileira após sua estreia na direção do filme Marighella. Para ele,
esse olhar de direção, do lado de dentro da produção, permite ver as dificuldades que os
realizadores enfrentam em nosso país, especialmente nesse momento em que o Governo
ameaça interromper a liberação de recursos já aprovados para novas produções.