
Malafaia: Aparições públicas não é indignação política legítima, mas um espetáculo constrangedor de destempero emocional
Uma das figuras mais barulhentas no processo eleitoral que levou Jair Bolsonaro ao Planalto foi o pastor Silas Malafaia. À época, vestiu-se de paladino da moral, dos bons costumes e da fé cristã. Curiosamente, trata-se do mesmo personagem que, em outros momentos da história recente, não teve qualquer constrangimento em apoiar Lula e o PT. Convicção ideológica nunca foi seu forte. Malafaia sempre se guiou pelo vento — e ele muda conforme a conveniência.
Com a derrota de Bolsonaro para aquele que já foi seu aliado político, Malafaia parece não ter assimilado o veredicto das urnas. Desde então, mergulhou num estado permanente de exaltação, protagonizando uma sequência de falas agressivas, desconexas e histriônicas. Ataca tudo e todos, como quem dispara palavras sem alvo, numa metralhadora giratória de ressentimento e vaidade ferida.
O ministro do STF Alexandre de Moraes tornou-se seu inimigo obsessivo, quase um antagonista de ficção. Mas o surto retórico não se limita ao Judiciário. Em dias alternados, sobram ataques aos filhos de Bolsonaro — ora o “01”, ora o “02” — e até à ex-primeira-dama Michelle, numa escalada que mistura rancor, oportunismo e evidente perda de rumo. Coerência, há tempos, deixou de frequentar seus discursos.
O que se vê em suas aparições públicas não é indignação política legítima, mas um espetáculo constrangedor de destempero emocional. O púlpito virou palanque, o sermão virou chilique e a fé foi empurrada para o rodapé. A figura do líder espiritual deu lugar à caricatura de um homem que fala alto, grita muito e convence cada vez menos.
Não surpreende que parte do rebanho esteja se afastando. Fiéis que buscavam orientação espiritual agora assistem a ataques raivosos e teorias conspiratórias. Quando a fé cansa, o templo esvazia. E quando o templo esvazia, o poder simbólico desmorona.
A ironia final é cruel: Silas Malafaia, que se vendeu como voz de milhões, hoje parece falar apenas para o próprio eco. Diante dos mesmos fiéis que um dia o enxergaram como guia espiritual, o que se projeta agora é a imagem de um líder derrotado — não apenas nas urnas, mas no altar da própria credibilidade.










