Em todo o estado, foram 77 incidentes com esses animais, desde 1992, quando os casos começaram a ser registrados
Os três ataques de tubarão em 15 dias, no Grande Recife, voltaram a acender o alerta sobre o porquê de os acidentes serem tão comuns em Pernambuco. Em todo o estado, foram 77 incidentes com esses animais, desde 1992, quando os casos começaram a ser registrados.
De acordo com a pesquisadora Mariana Azevedo, coordenadora do Núcleo de Pesquisa Fábio Hazin, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), uma série de fatores faz com que os ataques sejam mais frequentes em Pernambuco, como os citados abaixo:
🌊 topografia do litoral pernambucano, com canal profundo perto da costa e antes dos recifes de coral, o que facilita a passagem dos tubarões quando a maré sobe;
🦈 escassez de comida, devido à degradação ambiental, nos canais para onde os tubarões são atraídos;
💩 construção de complexos portuários e o esgoto na região.
Por que acontecem tantos ataques?
De acordo com a pesquisadora, a topografia do litoral pernambucano, especialmente no trecho entre a Praia do Pina, na Zona Sul do Recife, e a Praia do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana, favorece a presença dos tubarões na costa, perto da faixa de areia.
É nessas condições que aconteceram as mordidas do surfista André Luiz Gomes da Silva, de 32 anos, atacado em Olinda; do adolescente de 14 anos que perdeu a perna; e da adolescente Kaylane Timóteo Freitas, que perdeu parte do braço. Os dois últimos casos foram em Piedade, em Jaboatão.
“A gente tem um canal profundo que fica perto da costa onde a gente toma banho e antes dos recifes de coral. Quando a maré sobe, esse animal consegue passar e ficar preso numa posição confortável para estar indo atrás de alimento. Obviamente, a gente sabe que está tudo degradado”, afirmou.
Ainda segundo Mariana Azevedo, as características econômicas da população também influenciam na frequência desses ataques.
“O passeio da praia, de mar, é o mais barato. É o que todo mundo pode ir, o mais democrático. Então, o encontro com a população vai ser mais frequente se tem mais pessoas na praia”, disse.
A pesquisadora explicou, também, que tubarões não são atraídos pela carne humana, mas são animais curiosos, que gostam de explorar o ambiente.
“Infelizmente, a oferta de alimento é muito baixa e eventualmente ele vai investigar o que tem para comer. Não é porque ele gosta da gente. A carne da gente nem presta para ele. Ele nem curte, mas acaba mordendo. Sente o gosto e, eventualmente, até acaba jogando fora, regurgitando quando vê que não é do hábito alimentar dele. Aí, já fez estrago grande”, declarou.
O que atrai os tubarões?
Mariana Azevedo afirmou, ainda, que esses canais profundos perto da costa são, geralmente, locais onde os tubarões encontram comida. Entretanto, devido à degradação do meio ambiente, a oferta de alimento é escassa. Ainda assim, eles seguem vindo ao litoral por causa de vários fatores.
“As explicações são muito variadas. Não existe um fato isolado que explica esse surto de incidentes aqui no nosso litoral, mas, sem dúvida, a construção de complexos portuários e o esgoto. A gente tinha o matadouro de Jaboatão também, a pesca de arrasto de camarão e descarte dessa fauna acompanhante perto do litoral também acabam atraindo esses animais”, explicou.
Além disso, segundo a pesquisadora, o lixo agrava a situação. “O lixo atrai muito. […] Como é um animal muito curioso, o que tiver de lixo, de resíduo, ele vai atrás, para saber o que tem ali”, disse.
Como podemos prevenir?
No Litoral de Pernambuco, de Olinda ao Cabo de Santo Agostinho, há 36 quilômetros monitorados de praia, devido ao risco de ataque de tubarões.
A primeira medida a ser adotada pelos banhistas é tomar cuidado, e, nos pontos em que o banho de mar é proibido, não entrar no mar.
Em alguns locais, a sinalização está desgastada. As placas de alerta em áreas sujeitas a ataque recomendam que as pessoas não entrem no mar nas seguintes situações:
- Em áreas de mar aberto;
- No período de maré alta;
- Ao amanhecer e ao cair da tarde;
- Na foz dos rios;
- Em áreas profundas;
- Em áreas turvas;
- Se estiver sozinho;
- Com sangramento ou com objetos brilhantes;
- Se estiver alcoolizado.
Além disso, segundo a pesquisadora Mariana Azevedo, o tratamento do lixo também é essencial. “Sempre que a gente vem à praia, a gente traz a mensagem de que leve o que você produziu de lixo e também leve o que está ali ao seu redor, porque sempre vai ter lixo”, afirmou.
Quem é responsável pela prevenção?
Evitar situações que possam aumentar o risco de ataques de tubarão é um dever de todos. Entretanto, o poder público tem um papel essencial, que tem sido negligenciado. Um exemplo é o monitoramento, em mar, dos tubarões. Esse trabalho foi paralisado em 2015.
“Por causa de gestão, o projeto, o Protuba, foi quebrado. Ele foi parado e a gente não conseguiu fazer o monitoramento, tanto na água, como a gente fazia, marcando os animais, quanto também na orla, com a educação ambiental”, disse.
Na segunda-feira (6), a governadora Raquel Lyra (PSDB) disse que vai investir em mais pesquisas para aprimorar o monitoramento das praias pernambucanas e evitar novos ataques de tubarão.
A praia vai voltar a ser segura?
Mariana Azevedo disse, ainda, que é possível que o banho de mar volte a ser seguro.
“Sem dúvida, o trabalho de formiguinha, o trabalho contínuo da educação ambiental é o ponto mais importante. Na época que a gente atuava a gente conseguia estar na praia o tempo todo, atuando do Pina ao Paiva, falando com a população, dando essa mensagem e lembrando, mesmo para aqueles que têm acesso às placas, que têm acesso à informação, porque a educação é feita todo dia”, disse.
Fonte: G1