Paulo Magalhães de Araújo, de 59 anos, foi detido nesta terça-feira (25), no Gama. Juiz Felipe Kersten aponta elementos que indicavam venda de imóvel, bem como ‘alienação de participações societárias, incluindo escola’
A Justiça do Distrito Federal manteve, nesta terça-feira (25), a prisão de Paulo Magalhães de Araújo, de 59 anos, condenado no último dia 19 por estuprar uma criança, entre 2010 e 2014, dentro da escola infantil da qual era dono, na região do Gama. De acordo com o processo, o primeiro crime ocorreu quando a menina tinha 5 anos de idade.
O juiz Felipe Kersten decretou a prisão preventiva do empresário, ou seja, por tempo indeterminado. A decisão foi tomada a partir de indícios de “risco efetivo de fuga do réu”.
“… pois, de que este, em liberdade, procure se furtar à aplicação da lei penal”, diz o juiz na decisão.
O magistrado analisou elementos que “indicavam a venda de um imóvel, bem como a alienação de participações societárias, incluindo a escola”. A defesa de Paulo Magalhães de Araújo não respondeu aos contatos da reportagem nesta terça. Em tentativas anteriores, o advogado Sérgio dos Anjos não quis se manifestar.
A prisão do dono da escola
O empresário Paulo Magalhães de Araújo foi preso por agentes da 20ª Delegacia de Polícia, em cumprimento da ordem determinada pelo Juizado de Violência Doméstica do Gama. Em junho, a Justiça havia negado um pedido de prisão feito pela Polícia Civil.
A sentença, que fixou pena de 23 anos e 4 meses de reclusão, tinha dado ao réu o direito de recorrer em liberdade, porém, com uma série de medidas cautelares impostas, como estar proibido de deixar o país.
A vítima atualmente tem 16 anos e só contou sobre os abusos para a mãe recentemente, porque não estava conseguindo se relacionar. A família buscou ajuda com um psicólogo e registrou o caso no Conselho Tutelar do Gama e na 20ª DP.
‘Absoluta credibilidade da palavra da vítima’
Segundo o processo, que corre em segredo de Justiça, a maioria dos abusos acontecia “na salinha de ferramentas”, na “brinquedoteca” e “no banheiro feminino”. A jovem alega que o dono da escola pedia a ela que sentasse em um banquinho, para praticar sexo oral.
Já o acusado afirma que o “quartinho das ferramentas” – onde a vítima disse que ocorriam os abusos – fica embaixo de uma escada, em frente à brinquedoteca, e que no lugar “não tem espaço para colocar cadeira”.
No entanto, conforme o processo, após o atendimento com um psicólogo, não restaram dúvidas sobre a prática do crime. Na condenação em primeira instância, o magistrado analisou que os relatos da vítima “foram emitidos de uma forma coerente, racional e harmônicos entre si, o que culmina na absoluta credibilidade da palavra da vítima”.
O documento aponta que a vítima tem “sequelas psicológicas”, e que não consegue se envolver com ninguém, além de sofrer de ansiedade e estar “mais retraída”.
Na condenação em primeira instância, o juiz levou em consideração a “análise e a valoração de todos os documentos juntados aos autos, dos depoimentos colhidos na fase policial, confrontados com a prova oral coletada em juízo sobretudo pelas declarações consistentes e seguras prestadas pela vítima”. E destacou:
“Resta evidente um conjunto probatório coerente e harmônico entre si, conjunto probatório esse suficiente para apontar o ora acusado como autor dos fatos ocorridos neste período” […] delitos contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes normalmente são praticados na clandestinidade, por razões óbvias”, diz a sentença.
O juiz também analisou que, em se tratando de delito sexual infantil, “geralmente praticado de forma escamoteada, às escondidas, ignorar ou desacreditar o valor da palavra da vítima, quando não identificada qualquer razão para que ela procurasse criar ou prejudicar deliberadamente alguém, seria o caminho para a não responsabilização dos autores desse tipo de conduta”.
Outra denúncia
Uma prima da vítima, atualmente com 27 anos, também contou ter sofrido abuso, na mesma escola, quando tinha entre 10 e 11 anos. O abusador, segundo ela, era o empresário Paulo Magalhães de Araújo.
A mãe da menina contou à polícia que “na época, ficou chateada, deixou de trabalhar na escola e retirou a filha da escola”. A mulher disse ainda que “as pessoas falavam que era coisa de criança e acabaram abafando o caso”.
Fonte: G1