Bonequeiros contam como começaram carreira que mistura crítica, arte e cultura brasileira. Festival Bonecos de Todo Mundo reunirá artistas de vários países que se apresentam em escolas públicas durante mês de março; veja programação
A primeira vez que o brasiliense Chico Simões viu um boneco de ventríloquo foi em 1971, quando tinha onze anos de idade. “Esse boneco era muito engraçado e só respondia coisas que ninguém esperava que ele respondesse. Então eu me identifiquei demais e achei curioso porque as professoras que me reprimiam quando eu dava respostas assim, engraçadas, elas riam do boneco”, lembra o artista.
Mal sabia Chico que, depois daquele dia, ele descobriria uma nova paixão e se inspiraria para idealizar o próprio festival. Chico Simões é um dos criadores do Bonecos de Todo Mundo, evento que reúne bonequeiros de vários países para levar alegria a escolas da Rede Pública do Distrito Federal.
“Como o próprio nome diz, é um encontro, de diversidade e muita troca de informação. É uma grande escola para nós bonequeiros. E, para o público, é uma oportunidade de conhecer aspectos de outras culturas do mundo e de todo o Brasil”, aponta Chico Simões.
Neste ano, o evento acontece dos dias 13 a 26 de março, com grupos da Índia, Itália, Burquina Faso, Argentina e Peru, além de 10 grupos locais do DF e outros cinco nacionais.
Mamulengo: um jeito diferente de contar histórias
Chico relata que conheceu o teatro de Mamulengo – com fantoches típicos do nordeste brasileiro, no início dos anos 80. “Foi amor à primeira vista”, ele diz.
“Você brinca em qualquer lugar, em qualquer situação, para qualquer público. Tudo é adaptável. Sem falar que é uma maneira também de ganhar a vida. Foi assim que eu fui me apaixonando pela função de bonequeiro”, conta Chico.
Segundo o bonequeiro, o teatro de Mamulengo retrata a diversidade da cultura brasileira. Ele explica que, nas apresentações, há elementos da África, indígenas, do nordeste e do folclore brasileiro.
“É como se eles ‘miniaturizassem’ e brincassem para o público conhecer os personagens. […] É um retrato profundo da cultura popular brasileira. Fala das relações, desde o tempo da escravidão, do tempo dos coronéis, até hoje, dos grandes proprietários com seus empregados. Essas relações sociais que não mudaram muito desde o Brasil colônia até hoje”, destaca.
Encantar e dialogar
A bonequeira Fabíola Resende também se sentiu inspirada a iniciar a carreira por uma apresentação de teatro de bonecos. Mas no caso dela, quem estava por trás dos fantoches era o próprio Chico Simões.
“Eu me encantei muito, porque revivi uma memória afetiva de infância. Eu estudei numa escolinha que tinha teatro de bonecos e isso me despertou o sentimento”, lembra Fabíola.
Foi assim que ela começou a trabalhar ao lado de Chico. Fabíola conta que, quando começou, em 2006, havia o discurso de que não existia espaço para mulheres no Mamulengo. “Não tinha mulheres na cena porque as mulheres não sabiam sobre as vozes grossas dos homens, não tinha escritura, e eu falei: ‘Nossa, eu quero esse desafio'”, relata Fabíola.
A partir disso, ela criou a personagem “Conceição”, uma agricultora que enfrenta desafios no campo, colocada sempre como protagonista das cenas.
“Acho que o teatro de bonecos tem uma missão de encantar e trazer a cultura brasileira como uma ferramenta de diálogo com o público”, diz a bonequeira.
Veja a programação completa
5ª edição do Bonecos de Todo Mundo – Festival Internacional de Teatro de Bonecos
Programe-se
5ª edição do Bonecos de Todo Mundo
- Quando: de 13 a 26 de março
- Onde: Centro Cultural Sesi Taguatinga, Taguaparque e escolas públicas
- De graça
- Verificar classificação indicativa por espetáculo
Fonte: G1