BERNARDO ZAMIJOVSKY é curador de inovação do RIO2C. Na conferência/exposição/festival, ele fez
uma apresentação exatamente sobre uma questão filosófica que tem assaltado já há algum tempo
os pensadores modernos. Até quando se estenderá a vida humana como a conhecemos? Será
possível transferir nossa consciência para estruturas biônicas? Dito assim, de sopetão, parece uma
piada do estabanado cientista superdotado Sheldon Cooper, do seriado Big Bang, a Teoria. Mas, de
certa forma, A Guerra dos Mundos também não passava de uma imensa pegadinha do Orson
Welles, e, hoje, os preparativos para as viagens e a colonização do planeta vermelho estão a pleno
vapor. Qual o limite entre a ficção, o desejo e as reais potencialidades nesse campo?
A apresentação de Bernardo começou baseada em teses de Ray Kurzweil, parceiro de Peter
Diamandis na fundação da Singularity University no final da primeira década do século 21. Essa
instituição se concentra em tecnologias “exponenciais” para fomentar o progresso científico.
Especialmente Kurzweil, que defende que a singularidade ou unicidade das novas tecnologias
emergentes como a nanotecnologia e a biotecnologia aumentarão de forma exponencial a
inteligência e a sobrevida humana nas próximas duas décadas. Tudo isso seria possível graças a um
conceito em que Diamandis acredita, de confluência de abundâncias: de recursos financeiros,
computacionais, de saúde, de tempo e outros. Segundo o cientista, estamos vivendo em um
momento superbacana, que só favorece o desenvolvimento exponencial que seu colega Kurzweil
prevê.
Algumas previsões de Kurzweil parecem tiradas diretamente de livros e filmes de ficção científica,
mas vêm sendo testadas em laboratório com sucesso promissor. Essas previsões tomam como base
a Lei de Moore, fundador da Intel, que previu, em 1965, que a capacidade computacional dobraria, e
que seu custo cairia pela metade a cada 18 meses. Considerame também o seu fim, decretado com
o aparecimento das IPU (Unidades de Processamento Inteligentes) e o engatinhar dos computadores
quânticos (ainda muito grandes e não confiáveis – Parece com o início dos computadores quase 80
anos atrás?). É o caso de partes do corpo feitas em impressoras 3D capazes de manipular e processar
matéria orgânica.
Ou de partes construídas com nanotecnologia para serem implantadas no corpo humano, restaurando ou aumentando os sentidos como a audição e a visão. Os mais velhos se lembrarão de seriados com homens e mulheres biônicas. Os mais novos pensarão diretamente na ciborgue Nébula (ou Nebulosa, na fraca tradução) da Saga do Infinito da Marvel. Indo mais longe,
depois de fazer individualmente todas as partes de um organismo humano, restaria realizar a transposição da consciência para um corpo todo formatado conforme seus desejos. Um humanoide perpétuo. Seria a imortalidade possível dessa forma?
Por outro lado, o mundo corporativo parte da sociedade como a conhecemos passa por
transformações reversas. É cada vez mais curto o ciclo de vida dos produtos e o tempo de vida das
empresas e das corporações. Não só os computadores caríssimos de hoje são suplantados por
outros mais baratos e mais poderosos amanhã. A obsolescência programada atinge todos os
produtos do mundo moderno. E grandes empresas vêm cedendo seus lugares no ranking das mais
valiosas do mundo a novatas recém-chegadas no mundo dos negócios. E essa dança das cadeiras
também está bastante acelerada. As previsões apontam que entre as 500 maiores empresas do
mundo, muitas terão desaparecido em cerca de 15 anos. Outro valor que vem se tornando cada vez
mais efêmero é o das relações. A era das relações instantâneas propiciada pelas redes sociais
chegou com força total. Os amigos conquistados hoje não te darão as curtidas desejadas amanhã,
tornando-se descartáveis. Já que falamos de relações combinadas, suas combinações nos levam a
questões éticas. Será que tudo isso acontecerá na forma que vem sendo prevista? Segundo a Teoria
do Caos, os movimentos nesse tabuleiro geram outros movimentos de difícil previsão, até para o Dr.
Estranho, pra falar de outro personagem Marvel. Exemplos disso estão presentes nas notícias todos
os dias. Escândalos financeiros e sexuais dentro das startups demonstram que sempre haverá
humanos com aquelas condições que todos desprezam em público, mas que alguns cultivam no
privado. Como punir desvios de comportamento em uma sociedade de homens perpétuos? Que
pena pode ser eficiente? Mais do que o mero castigo aos crimes, que tipo de educação pode evitar
que esses desvios de comportamento continuem impactando a sociedade? Como será a avaliação do
tempo nesse não tão admirável mundo novo? Faz lembrar uma faixa de um disco do grupo de rock
progressivo holandês FOCUS, de 1972: Answers?Questions!Questions?Answers! Quem quiser ouvir e
pensar no assunto, segue o link: https://www.youtube.com/watch?v=jsqFEI_Ulhs