Durante esta sexta e também no sábado, desfiles tomam conta do Eixo Cultural Ibero-Americano; no total, incluindo editais anteriores, GDF investiu R$ 12 milhões no evento
Foi aberto oficialmente na noite desta quinta (22) o desfile das escolas carnavalescas de 2023 na Passarela do Samba Marcelo Sena – nome dado em homenagem ao sambista do DF que faleceu em janeiro –, montada no Eixo Cultural Ibero-Americano (antiga Funarte). Os desfiles serão realizados até sábado (24), com a divulgação dos resultados e aclamação da grande campeã no domingo (25).
Presentes à cerimônia, representantes de 13 escolas e de suas comunidades, membros do candomblé, da corte do Momo e outras personalidades do carnaval e do samba assistiram à lavagem da pista com água de quartinha – uma infusão com ervas para abrir os caminhos desse importante segmento da economia criativa.
As escolas de samba do DF não desfilavam desde 2014. “O samba está voltando”, ressaltou o secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues. “Não existe época para sonhar, nem época para que o sonho se realize. Está aqui o sonho sendo realizado. O desafio é continuar [com o desfile] ano após ano. Ano que vem, tem de ser ainda mais bonito”.
Caminhos abertos
Para que os grupos carnavalescos pudessem sair às ruas neste ano, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) investiu R$ 7 milhões em recursos diretos, além de R$ 5 milhões em editais anteriores, como o que criou a Escola de Carnaval. A medida foi fundamental para capacitar o segmento.
À frente da Escola de Carnaval, Milton Cunha foi o mestre de cerimônias. O carnavalesco paraense, que divide suas atividades entre Rio de Janeiro e Brasília, era todo alegria. “Estou muito feliz”, disse. “Foram nove anos de espera. Eu penso no soldador, no serralheiro, na bordadeira, nesses artistas populares que precisam ocupar esse território, vindos de todas as regiões administrativas”.
A subsecretária de Difusão e Diversidade Cultural da Secec, Sol Montes, também era toda alegria. “Só tenho a agradecer a essas pessoas, pois são muitos sonhos reunidos num só”, declarou. “Quando eu pus o pé nessa avenida pela primeira vez, vi nos olhos de muita gente a dúvida: ‘será que vai ter carnaval?’ Hoje eu ouvi tanto ‘obrigado’ que valeu a minha vida”.
Tradição africana
Ao som de um ponto cantado para Exu Onan, reverenciado na Umbanda como o orixá que abre caminhos, o sambista Dilson Marimba, homenageado da noite, foi um dos primeiros a entrar na Passarela do Samba, ao lado de Sol Montes e do titular da Secec.
Segundo a tradição, as escolas de samba nasceram dos terreiros de candomblé africanos. Nesses rituais, reza a crença, as divindades comparecem e protegem seus filhos quando convocadas pelos atabaques – e foi assim que os africanos escravizados fizeram ao longo de mais de 350 anos, tempo durante o qual foram vítimas da desumana prática.
Ao assumir a cerimônia, o presidente da Escola de Samba Bola Preta ,de Sobradinho, Francisco Paulo Ferreira, se disse dividido entre a alegria de ver o desfile voltar e “a tristeza de saber que muita gente não tem o devido respeito” a essa manifestação cultural. “Foi tudo meio ‘atropelado’, mas te digo uma coisa: segunda-feira vamos começar a planejar o carnaval de 2024”, afirmou.
Ferreira sonha alto. Pensa no projeto de fazer um desfile na capital com as escolas vencedoras dos principais carnavais do país. O sambista acredita que a grande tarefa desse segmento da economia criativa é buscar sustentabilidade, fugindo da sazonalidade impressa pelo calendário. Defende que o carnaval saia da aba do Estado e caminhe com as próprias pernas. “Desfile fora de época vai atrair muito turismo, e os empresários vão ganhar muito dinheiro”, acredita.