Com recursos de R$ 2,5 milhões, a maior festa do cinema nacional conta com mais de 40 títulos de todo o país
Uma competição potente, em clima de retomada e pegada experimental. Assim poderá ser encarada a 55ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que volta ao Cine Brasília, templo da sétima arte da capital, em formato presencial e híbrido – ou seja, com exibição dos filmes também em formato online, em plataforma que será divulgada pela organização do festival.
Entre 14 e 20 de novembro, serão exibidas mais de 40 produções originárias de todas as cinco regiões do país. Vinte e cinco desses títulos irão concorrer ao troféu Candango, um dos mais relevantes do segmento. Desse montante, 12 filmes farão parte da mostra competitiva e 13 da Mostra Brasília, com produções do DF.
O anúncio foi feito na manhã desta quarta-feira (26) pelo secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues, durante coletiva no hall do Cine Brasília. “Estamos esperando que seja o retorno do festival, que está cercado de muita expectativa, num momento decisivo para a gente discutir o futuro do cinema brasileiro”, afirmou o gestor. O orçamento para este ano é de R$ 2,5 milhões.
Participaram do encontro a diretora artística do Cine Brasília, Sara Rocha, e o secretário-executivo da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), Carlos Alberto Júnior. Também compôs a mesa o presidente da Box Companhia de Arte – organização da sociedade civil (OSC) que divide a gestão do Cine Brasília com a Secec -, Fernando Borges.
Foram quase 1,2 mil filmes inscritos na seleção. Um número superlativo, levando em conta a crise sanitária vivida pelo país nos últimos anos. “Existe uma vontade espontânea das pessoas de voltarem a frequentar o Cine Brasília, e o Festival de Brasília é impressionante, tem um apelo de público inacreditável”, declarou o jornalista e professor Sérgio Moriconi, responsável pelas exibições do Cine Brasília e integrante da comissão que escolheu os filmes selecionados para a Mostra Brasília, uma das mais esperadas do evento. “Imagino que vai ser um festival com filmes muito bons”.
Novidades
Para este ano, uma das principais inovações é que será a primeira edição do festival sob o comando de uma OSC. “Participamos da realização do festival desde 2021, com o desafio de ser online, por conta da pandemia”, lembrou Fernando Borges. “Este ano temos um novo desafio porque ganhamos a concorrência para gerir o espaço e vamos funcionar no modo híbrido. Será uma experiência maravilhosa”.
Neta de um dos ícones do cinema nacional, o baiano Glauber Rocha, Sara Rocha salienta o perfil dos filmes selecionados e os desafios de promover mais uma edição do evento: “É um privilégio a gente poder se reconectar neste momento após dois anos de pandemia, de um processo que foi descontinuado em muitas perdas e traumas que a sociedade brasileira e mundial viveu. Este ano a gente conta com uma seleção bastante ampla contemplando as cinco regiões do Brasil, produções com um olhar voltado para as questões de regionalidade, de gênero e temáticas. Foi uma escolha muito difícil, de filmes muito incríveis”.
A outra novidade é a volta da premiação em dinheiro pela Câmara Legislativa do DF para a Mostra Brasília, com aporte de R$ 240 mil, verba da qual R$ 100 mil se destinam ao melhor longa e R$ 30 mil ao melhor curta pelo júri oficial. Na categoria júri popular, o longa vencedor receberá R$ 40 mil, enquanto o curta agraciado ficará com R$ 10 mil.
Ineditismo
Pela primeira vez, dois filmes de Brasília fazem parte da mostra competitiva de longa-metragem. Um é a aguardada produção Mato seco em chamas. Dirigido por Joana Pimenta e o premiado cineasta de Ceilândia Adirley Queirós, o filme explora, em narrativa futurista, os impactos da violência em ambientes de favela. O outro título do DF na competição principal é Rumo, de Bruno Victor e Marcus Azevedo, que fala sobre a implementação das cotas raciais em universidades brasileiras.
Conhecido por ser palco de debates, oficinas, diálogos inflamados e bastante vigor cultural, o Festival de Brasília de 2022 contará com duas mostras paralelas: Reexistências e Festival dos Festivais. Haverá homenagens a dois monstros sagrados da cinematografia nacional, Jorge Bodanzky – diretor do clássico Iracema – uma transa amazônica (1975) e o mestre Vladimir Carvalho, pioneiro do cinema brasiliense.
Celebrando o Dia da Consciência Negra (20/11), o encerramento do Festival de Brasília contará com sessão hors concours do filme Diálogos com Ruth de Souza, da diretora paulista Juliana Vicente. A data marca também o retorno do prêmio Zózimo Bulbul, concedido pelo festival em parceria com a Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (Apan) e o Centro Afrocarioca de Cinema. Na sequência, haverá sessão especial do documentário Quando a coisa vira outra, de Marcio de Andrade, em homenagem a Vladimir Carvalho. Os filmes do 55º do Festival de Brasília também serão exibidos em Samambaia e Planaltina.
“Este festival é palco de debates, e queremos dar condições de discutir o futuro do cinema brasileiro”, salienta Bartolomeu Rodrigues. “Estarei muito satisfeito, com a missão cumprida, se este objetivo for atingido. Foi dessa forma que ele [o festival] foi concebido.”
Confira, abaixo, a programação do 55º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro
Mostra Competitiva Nacional – Longas
→ Mato seco em chamas (DF)
Direção: Adirley Queirós e Joana Pimenta
→ Espumas ao vento (PE)
Direção: Taciano Valério
→ Rumo (DF)
Direção: Bruno Victor e Marcus Azevedo
→ Mandado (RJ)
Direção: João Paulo Reys e Brenda Melo Moraes
→ Canção ao longe (MG)
Direção: Clarissa Campolina
→ A invenção do outro (SP/AM)
Direção: Bruno Jorge
Mostra Competitiva Nacional – Curtas
→ Big bang (MG/RN)
Direção: Carlos Segundo
→ Ave Maria (RJ)
Direção: Pê Moreira
→ Nossos passos seguirão os seus… (RJ)
Direção: Uilton Oliveira
→ Anticena (DF)
Direção: Tom Motta e Marisa Arraes
→ Calunga maior (PB)
Direção: Thiago Costa
→ Sethico (PE)
Direção: Wagner Montenegro
→ Escasso (RJ)
Direção: Encruza – Clara Anastácia e Gabriela Gaia Meirelles
→ São Marino (SP)
Direção: Leide Jacob
→ Capuchinhos (PE)
Direção: Victor Laet
→ Nem o mar tem tanta água (PB)
Direção: Mayara Valentim
→ Um tempo para mim (RS)
Direção: Paola Mallmann de Oliveira
→ Lugar de Ladson (SP)
Direção: Rogério Borges
Mostra Brasília – Longas
→ Capitão Astúcia
Direção: Filipe Gontijo
→ Profissão livreiro
Direção: Pedro Lacerda
→ Afeminadas
Direção: Wesley Godim
→ O pastor e o guerrilheiro
Direção: José Eduardo Belmonte
Mostra Brasília – Curtas
→ Desamor
Direção: Herlon Kremer
→ Super-heróis
Direção: Rafael de Andrade
→ Plutão não é tão longe daqui
Direção: Augusto Borges e Nathalya Brum
→ Manual da pós-verdade
Direção: Thiago Foresti
→ Tá tudo bem
Direção: Carolina Monte Rosa
→ Virada de jogo
Direção: Juliana Corso
→ Levante pela Terra
Direção: Marcelo Cuhexê
→ Reviver
Direção: Vinícius Schuenquer